sábado, 18 de abril de 2009

Regalo Patagônico - Escalada na Aguja De la S

Face Leste da Aguja De la S (foto de Edu RC)

Dois dias depois de tentar escalar a Guillaumet, de volta em Chaltén, conhecemos o Eduardo R. da Costa, um carioca muito gente fina que estava buscando parceria para escalar a Aguja De la S, que era justo outro de nossos objetivos. Assim formamos uma cordada de três, bem sintonizada, e seguimos rumo a De la S, no extremo sul do Cordão Fitz Roy.

Após 4hs de caminhada chegamos no acampamento Río Blanco, exclusivo para escaladores. Montamos aí um acampamento base e no dia seguinte subimos para o bivaque um pouco mais leves. De Río Blanco até o bivaque são mais umas duas horas, bordeando a bonita Laguna Sucia, com um visual alucinante do Paso Superior. Chegando no bivaque ainda fizemos um reconhecimento do caminho até o glaciar, uma morena sem trilhas nem pircas, um pouco difícil de se orientar.

Acordamos às 5h30, e pouco antes de sairmos chega ao bivaque uma cordada de um japonês e um norte-americano, vindo da agulha Saint Exupery. Eles haviam escalado a rota Buscaini, na gigante face sul da agulha, numa empreitada de 26hs. Nossa empreitada na De la S também nos esperava e começamos a aproximação até a base da agulha. Em cerca de 40min chegamos na base do glaciar, e caminhamos sobre ele mais uma hora e meia até chegar na base da via Austríaca, na face leste. O primeiro terço da rota original é escalada por um neveiro a 35/40º com 150m de extensão. A neve estava bastante blanda, afundando os pés até o joelho e sem possibilidade de proteger. Escalamos então apenas uma cordada pelo neveiro. Superamos a rimaya, que estava se decompondo, e prosseguimos por rocha e pequenos trechos de neveiros até atingirmos a base do grande diedro de 150m. Dali pra frente foi só desfrutar daquele belo granito.

Aproximação à Ag. de La S (Foto de Eduardo Pedro)




Escalando na Ag. de La S (Foto de Eduardo Rodrigues da Costa)



Após o bonito diedro, chegamos na aresta norte. Mais 150 ms de parede por um sistema de fendas de rocha bastante abrasiva, as fendas meio abertas e arredondadas, algumas proteções um pouco duvidosas. Mas a escalada era relativamente fácil e prosseguimos sem problemas até o cume.

Aresta Norte da Ag. De la S

Chegar ao cume foi um verdadeiro presente, uma vista maravilhosa e emocionante do isolado vale do Cordão Torre e suas imponentes agulhas. Claro que aquele momento foi desfrutado rapidamente e logo já demos início à descida, os inúmeros rapéis até chegar no chão novamente. Os últimos rapéis já fizemos no escuro, algumas transversais e trechos de neveiros, experimentando a tensão que provoca uma situação de perigo. Graças aos deuses patagônicos deu tudo certo, a corda não engatou nenhuma vez e chegamos no glaciar aliviados. Havia ainda a caminhada pelo glaciar e no escuro tudo demora mais. Depois de uma perdidinha na morena, chegamos no bivaque por volta das 3hs da manhã, cansados, mas com uma sensação maravilhosa de satisfação. O vento, guardião dessas selvagens torres de granito, nos deu a chance de estar pendurados em suas paredes por algumas horas e estávamos repletos de alegria e gratidão por esse verdadeiro regalo patagônico.



Cume da Ag. de la S (foto de Edu RC)
Cume da Ag. de la S, com vista para o Cordão Torre

Luana Hudler.

2 comentários:

Reginaldo Carvalho disse...

òtima escalada, lindas fotos e exelentes os relatos.

Victor A Carvalho disse...

Seus relatos estão muito legais! Consegui extrair informações importantes e as fotos estão show! Parabéns pelas escaladas.

Devo ir pra Chalten em março com um amigo e tentaremos a Guillaumet, de la S e Poincenot. Vamos ver o que rola!

Abraços.