sexta-feira, 20 de março de 2009

Desabafo


Não tenho do que reclamar, estou em casa feliz, contente e ja sem o gesso, mas eu tinha que escrever isso.

Em fevereiro de 2009 eu quebrei a perna em um acidente de escalada. Tive uma fratura de fíbula e outra incompleta de tíbia. Na verdade não foi nada grave, tanto que nem deu para o médico ver que estava quebrado. Mas como a fratura se deu por esmagamento havia uma ferida em cima. O que quero contar é que a parte mais dolorida de todo acidente e período de recuperação, até agora, foi a parte do médico. O cara era pediatra. Ele foi muito seco comigo.

Cheguei de maca, já assustada porque tenho medo de médico, ele nem olhou na minha cara direito. Colocaram-me deitadinha e ele foi ver meu pé. Tirou as compressas que estavam no ferimento limpou com bastante força e depois começou a apertar...Só de lembrar tá me dando coisa...Me apertou tanto que uma hora espirrou sangue, espirrou de verdade. Ai credo!!! Ele nunca mencionou para mim o que ele estava buscando por ali. Acho que ele queria saber se estava quebrado.

Na verdade ele estava apertando justamente em um dos lugares onde estava quebrado. Eu já nem sabia mais se doía ou se eu estava ficando louca – tenho uma boa capacidade para controlar a dor através da respiração, e isso me confunde um pouco. Bom, o que eu queria saber é se mesmo que ele fosse capaz de descobrir alguma fratura em mim, qual seria a real urgência de se descobrir isso naquela noite? Se de qualquer forma no outro dia me desceriam para um hospital onde eu tiraria uma radiografia? Além disso, quando cheguei em Floripa o médico daqui disse que se a fíbula tivesse saído do lugar eu teria que passar por cirurgia. E se aquele senhor tivesse apertado a minha fíbula com a mesma força que ele apertou a tíbia? Cara, foi incrível.

Hoje lembro, e chega a ser cômico. A hora que a minha parceira de escalada lhe perguntou se ele era o médico ele respondeu: - Si, pero no Dios...!! Juro!!! Ele respondeu isso...tem testemunha e tudo. Agora outra coisa que eu não tinha nunca pensado é na falsa confiança que temos aos médicos. Para mim isso mudou. Que eu nunca mais passe por uma situação que eu precise de um médico. Mas se eu passar espero estar muito mais forte psicologicamente para não deixar que ele ponha a mão em mim só porque ele é medico. Vai ter que me explicar tudo que for fazer, senão não faz.

Se vocês vissem a forma como ele tirava a meia do meu pé. Foi de deixar brava. E mesmo que ele fosse me salvar a vida por me apertar minha ferida daquele jeito, um pouco mais de simpatia não faz mal a ninguém. Detalhe: depois dele nenhum outro medico chegou a querer tocar minha ferida, só o do hospital de Bariloche para dar o ponto. Outro detalhe: alguém já ouviu falar que em caso de sangramento, depois de limpar a ferida e colocar as compressas, não se deve mais retirar o curativo para não remover o coágulo?? Ele tirou o curativo umas três vezes para ver se tinha parado de sangrar!!! Mas bão, era só pra desabafar e pra se alguém perceber que o cara ta viajando, fazendo doer sem necessidade: nao fique insegura. Manda tirar a mão.

era isso...bjao

Andrea

terça-feira, 17 de março de 2009

Resultados

Finalmente, depois de algumas alterações nos planos estamos de volta!! Ainda em dezembro de 2008, surgiu a oportunidade para a Dani ir conhecer Cochamo no Chile, e quem sabe depois nos encontrarmos em Arenales e da Luana ir para Chalten, Patagonia Argentina. Então as moças foram a serviço da equipe para conhecer novos horizontes e trazer novidades. Mas isso elas ja devem estar por postar.



Simone e eu (Andrea) saímos de Floripa no dia 8 de janeiro. Fomos de uninho, que pra quem conhece sabe que isso já era uma aventura...A viagem até Bariloche durou 3 dias. O último trecho da viagem fizemos a noite, era lua cheia, e quem conhece pode imaginar o que foi passar pelo Valle Encantado com o dia amanhcendo.




Chegamos em Bariloche e aproveitamos o dia para comprar comida. No dia seguinte ja estavamos subindo para o Frey...Subimos todo equipamento e comida para três dias aproximadamente. Apesar das mochilas pesadas a trilha foi bem tranquila e fomos curtindo o bosque.
No primeiro dia de escalada fomos na clássica Diedro de jim, mas choveu e só fizemos a 1a cordada. No dia seguinte fomos para a agulha La Vieja e fizemos a Del Frente (5), onde a Si guiou sua primeira cordada no Frey. Depois disso foi só alegria!!!



O tempo durante o mês de janeiro colaborou bastante assim que escalamos quase todos os dias de 14 de janeiro a 7 de fevereiro. Ao final havíamos estabelecido uma deliciosa rotina de acorda, come, banheiro, escala, volta come, vinho e dorme para escalar no dia seguinte.



Nos primeiros dias estávamos um pouco inseguras, adaptando-nos ao terreno. Mas pouco a pouco, a confiança começou a crescer entre nós. A parceria entre a cordada foi excelente e fez com que ambas desenvolvêssemos bastante. Escalamos todo tempo alternando quem guiava e isso fez com que a escalada fluisse bastante.











Fizemos vias como a Shiva de los quatro brazos (5+) na Piramidal ,
On marche sur la lune (6a+) na Banana, Clemenzo (5) na Principal.


Fomos também na agulha El Tonto Le Gran tom (6a) e Lobo Blanco (6b). Nos dias de descanso de pernas e cabeça ficávamos pela M2 fazendo Socotroco (6b), Acqualung (6c, de top) e Del Diedro (5) ou então na Abuelo fazendo Aprendiendo a volar (6a) e Del Techo (6a.






Até na agulha Frey “descansamos” na Sifuentes Weber (5),
Los Museos (6a+) e Lost Fingers (6b).


Depois pusemos as cabecinhas para fritar no Campanille Esloveno na Founrouge Bertoncelli (6b).






E, para finalizar perfeito: Gemidos de Buitre saindo por Los Bolsoneros (Tramo mais dificial 6a+). Uma via linda!! que uns "gurizinhos" - Los Pibes, tinham recomendado pra gente. Começa em uma fenda larga de meio corpo (6a), passa por uma fenda de mão perfeita (6a), faz uma travessia pra fugir do 6b/c original da via e pega um tetinho de 6a+ muito legal!!! De perder os pés pra fazer o movimento!!!
Bom estava tudo perfeito, mas no último dia em que íamos escalar no Frey, era lua cheia e ja estávamos demontando acampamento para ir pro Tronador, tivemos um acidente na agulha Piramidal e eu quebrei a perna...a fratura em si nao foi nada sério.














Teve seu lado bom, porque Simone e eu pudemos nos conhecer melhor em uma situação diferente, e isso, acredito que posso falar pelas duas, fez com que a nossa confiança mutua crescesse significativamente.
Infelizmente Tronador e Arenales ficaram pra próxima temporada. Eu já havia ido ao Frey nos três anos anteriores, mas foi só agora que eu consegui entender as metas que se pode chegar a alcançar quando se tem uma boa parceria. Fora a força que nos dava a motivação que rolava por parte da galera que estava acampada por lá. Os escaladores nos passavam “os betas” das vias sempre incentivando-nos, acreditando que seríamos capazes.Infelizmente, éramos a única cordada feminina do acampamento. Torço pelo dia em que se chegue a um acampamento de escalada e encontre um número mais parelho entre homens e mulheres. Não por nada. Só pra quando minha parceira quiser descansar, eu possa ter a opção de escalar com outra menina. Pra poder planejar mais cordadas femininas por ai...Cordada feminina no Peru, por exemplo!!! Morreria de satisfação...Catherine Destivelle, grande alpinista francesa, disse em seu livro Ascensiones que um dos motivos que a levava a solar, é que sempre que ela ia com um homem, por mais que ela participasse ativamente das cordadas, ela sempre se sentia sendo levada...É acho que ela não havia experimentado escalar com uma amigA.
Foi triste voltar antes, mas passamos pelo litoral a visitar uns amigos em Puerto Piramides, Peninsula Valdez. A Si teve oportunidade de mergulhar...Eu, depois do acidente, fiquei só mateando e tomando vinho....Mas a motivação segue forte, e já estamos começando a ter idéinhas de viagens outra vez.....