sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nada é de graça ! Escalada em rocha no Rio de Janeiro Temporada 2009






Esta era a terceira vez que eu me preparava para escalar no Rio de Janeiro, a diferença das outras vezes estavam nos objetivos. A primeira vez, com apenas algumas meses de escalada na bagagem a expectativa estava em conhecer o lugar e ver as paredes que sempre estavam nas conversas dos escaladores mais experientes. Na segunda vez, a idéia era tentar acompanhar meu parceiro, de segundo, é claro, com olhos bem abertos e sem atrapalhar. Agora, desta vez, com um pouco mais de experiência estava ansiosa por uma escalada mais comprometida, ponteando e desfrutando de todo aquele granito.

Partimos de Curitiba eu e o Ingo Moller, a Luana Hudler e Eduardo Pedro, de Joinville. A primeira parada foi no Dedo de Deus que fica localizado na estrada Rio-Teresópolis. A montanha é de embasbacar, como tudo no Rio de Janeiro. Mas ainda não foi desta vez que chegamos no cume. As informações que tínhamos sobre a entrada da trilha diziam que o seu início era atrás da estátua da santa, depois de varar mato por duas horas, descobrimos que não era exatamente assim. Fizemos um bom reconhecimento da mata atlântica e no final do dia tocamos rumo as Torres do Bonsucesso, com a intenção de tentar novamente o Dedo de Deus quanto estivéssemos voltando.

Torres do Bonsucesso está no caminho para Salinas, se você segue pela estrada Rio Petrópolis, e não é a toa que a montanha é capa do Guia de Escalada dos Três Picos. A sua beleza, o seu tamanho e o tipo de escalada torna o lugar realmente impressionante e exigente, tanto fisicamente como psicologicamente. Seguimos as orientações do Guia do Serginho e conseguimos chegar à propriedade onde se encontram as Torres sem problemas, a localidade se chama Boa Vida, e realmente é. O dono da propriedade nos deixou usar uma cozinha, banheiro, água, lugar sossegado para acampar. Boa vida mesmo. Para acessar as escaladas rola uma meia hora de trilha tranqüila, depois uns 200m de costões, tipo aderência. A chegada na base da via que escolhemos já foi uma aventura, agora faltavam as seis cordadas da via Grito das Andorinhas. Não tínhamos material suficiente e por isso fomos os quatro em uma cordada só. O Ingo foi primereando tudo, e nós fomos nos ralando atrás, a via é basicamente fenda e off width, algumas vezes um pouco suja porque não é muito freqüentada. Fomos até a quarta cordada e decidimos descer, já era tarde e coisa ia ficar mais difícil dali para frente e ainda tínhamos que destrepar os 200m de costões. Todas as vias em Torres do Bonsucesso possuem lances obrigatórios de 7 grau, nada desportivo, é tudo no melhor estilo escalada de aventura, natureza exuberante, do tipo que nos faz sentir muito pequeninos e insignificantes. Uauuu!
Depois da surra na Grito das Andorinhas os quatro estavam convencidos que devíamos tentar algo mais tranqüilo para facilitar o nosso sucesso. Fomos então para o Morro dos Cabritos, a via desta vez ainda não iria ser o O céu é o Limite ( quem sabe numa próxima...) fomos para a Mario Arnoud, um 5 grau de aderência com 500m.

No Morro dos Cabritos a boa vida acabou. Tivemos que acampar na beira da estrada, embaixo de um barranco prestes a desmoronar, porque a pessoa que autorizava acampar dentro da propriedade não estava, e sem a palavra dele nada feito. Fomos dormir com céu estrelado e acordamos no meio da noite com muita água caindo. Pela manhã o sol estava brilhando e fomos caminhando no capinzal todo molhado até a base da via. Começamos a escalar a aderência meio melecadinha, e lá pelo meio da escalada tivemos que esperar a pedra secar para continuar. Nunca é de graça!!. Mas subidos até o cume, pegamos um lindo por do sol e uma noite com céu desperrado e estrelas cadentes.

Finalmente chegamos em Salinas e aí ficamoss mais duas semanas. A equipe de duas cordadas acabou se tornando uma cordada de três, o Ingo voltou para Curitiba. Antes de partir escalou com a Luana e com o Edu a via Sólidas Ilusões no Capacete.
Ficamos acampados no Vale dos Deuses, cerca de 1 h da base da Leste e 30min das principais vias do Capacete. A primeira escalada da cordada foi a Kabong no Capacete, as cordadas foram divididas igualmente. Tanto para mim como para a Luana foi a primeira vez que tivemos a frente por trechos de quatro, seis cordadas. E parece que as moças gostaram. No outro dia, como o tempo não estava muito bom para enfrentar o Pico Maior, voltamos para o Capacete e escalamos a Cerj. O Edu que já havia feito a via, fez a gentileza de nós presentear com as suas cordadas, e assim eu e a Luana fomos revezando os 450m da via. Sempre com uma nuvenzinha cinza carregada no horizonte para botar uma pilha maior nas meninas. Nunca é de graça! Na descida uma chuvinha para lembrar a galera que na montanha é sempre melhor agilizar o processo.

Alguns dias de chuva na seqüência e a galera só pensava, falava e respirava Pico Maior. Até que amanheceu desperrado, céu azul, vento forte... bora é agora ou nunca. Começamos as oito da manhã e as três chegamos ao cumbre com forte vento e mar de nuvens. Lanche rápido e dale fazer rapel que não acaba mais. Final do dia cansados e realizados no Vale dos Deuses do lado do fogão a lenha do seu Reinaldo. No outro dia tempo ruim e baixamos, ainda faltava o Dedo de Deus.

Com informações mais precisas dos cariocas conseguimos finalmente achar a trilha, nosso primeiro desafio. O segundo foi os metros e metros de cabo de aço, para quem está indo escalar não é a atividade dos sonhos... mas uma hora acaba e aí começa a escalada. Escolhemos a Teixeira, via de conquista do pico, alguns lances de artificial, pedra úmida e chaminé para todos os gostos. Realmente todo montanhista tem que subir pelo menos uma vez o Dedo de Deus, quer dizer, ter não tem, mas é muito massa...

Ainda não satisfeitos, e com uns dois dias de crédito para acabar o deadline da trip, decidimos dar uma parada nas Agulhas Negras. Chegamos lá no final do dia, cansados e logo de cara o “guarda do parque” disse para mim e para a Luana que sem guia não entrava. Bom, o Edu desceu do carro e daí a coisa mudou, poderíamos entrar, mas só das 7 da manhã as 5 da tarde, porque acampar não pode e para dormir no refúgio tem que reservar com 30 dias de antecedência e tem que pagar R$ 10,00 por pernoite. Falando em pagar, também tinha R$ 12,00 por pessoa de diária do parque mais R$ 5,00 do carro por dia. Mas nem pagando podíamos ficar porque não fizemos reservas. A indignação foi total, tocamos para a casa. No retorno o papo era a temporada 2010, as vias que iríamos escalar e os dois meses que teríamos que ficar no Rio de Janeiro para realizar todos os novos objetivos.


Danielle Pinto

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Dani, só complementando:
eu, voce e a lu ainda escalamos o Pontão do Sol pela estética linha "Sol Celeste".
Grande Abraço,
Edu Pedro.

luciana maes disse...

ee aeeee que legal em!!!!

pena não ter podido estar com vcs, mas, estou aqui e agora!! uuhhuuu

esse ano foi de salinas, realmente as rotas são lindas!!

e ontem dani tham tham tham tham!!!! fiz a agulha do diabo, em cordada feminina com a Helena, guiei quase todas as cordadas!! animalll!!

sinto falta de vcs!! venham pra cá quando quiserem, e óó o blog tá lindo e abro toda semana, tem q atualizar com mais frequencia!!

bjoss

Luana disse...

Dani, a expedição Nada é de Graça foi mesmo emocionante. Além de revisitar e conhecer lugares incríveis das serras fluminenses, pudemos sintonizar ainda mais nossa escalada. Sigamos assim e estaremos cada vez mais próximas de realizar nossas sonhadas cordadas femininas!
Beijo, Luana.