sábado, 11 de setembro de 2010

Cordilheira Branca 2010

Por Andrea Dalben

          Sem dúvidas, uma das melhores viagens que já participei. O conhecimento prévio do local certamente ajudou muito, já que no segundo dia estávamos alojadas na casa de Ybette, amiga que havíamos feito no ano passado. A aclimatação, também devido a experiências prévias, foi muito melhor, já que optamos por, antes de subir alguma montanha, ir conhecer a Laguna Churup (4485m) e descer para dormir em Huaraz (3090m).

Laguna Churup.
          Depois da lagoa, ainda pensando na aclimatação, fomos a Hatum Machay (4300m) pra escalar esportiva...que vida perfeita!

Hatum Machay. Não lembro nome da via (6a)
          Ai ficamos por uns 3 dias, escalando com a proteção no pé e caminhando morro acima para ver o entardecer sobre a cordilheira Huayhuash.


Caminhando morro acima...


Cordilheira Huayhuash vista desde o cerro de Hatum Machay
           Pronto, agora estávamos prontas para tentar a primeira montanha da temporada. Uma boa opção nos pareceu o Maparaju (5326m), a qual havíamos tentado sem sucesso na temporada passada. Também nos pareceu um bom lugar para seguirmos nossa aclimatação modelo, já que toda a aproximação para o acampamento base de faz pelo meio da quebrada Quilcayhuanca, a uma altura de 4200m por um caminho sem muito desnível.

Maparaju (5326m).

Dani e Lu durante caminhada de reconhecimento.

          Além disso, um dos grandes atrativos que essa montanha exercia sobre nós é o isolamento em que esta se encontra, já que não é muito freqüentada pelas grandes excursões. Por esse motivo também, não é tão fácil encontrar o caminho para o cume, pois como não vai muita gente também não tem huellas (pegadas na neve).

Nosso acampamento na Quebrada Cayesh
         
           Depois de descansar um dia fomos tentar o cume. A Lu mandou muito bem na ponta de corda pra encontrar o caminho...Corajosissima!! Pena que saímos tarde do acampamento e se fez tarde no glaciar...Meio dia, hora de sair do glaciar, mesmo sem cume...Ficou mais uma vez como lição de casa...

Cayesh (5721m). Nevado que dá nome a quebrada

Descida do Maparaju.
         Depois do Maparaju decidimos tentar o Yanapacha (5460m), montanha um pouco mais técnica, mas uma velha conhecida da Lu e minha.  Para chegar no campo base, se vai de carro até o 42 Km da estrada geral da Quebrada Llanganuco, onde se inicia uma trilha de aproximadamente 3-4hrs. Essa montanha tem uma vantagem muito grande: o glaciar fica a menos de 20min do campo base, excelente lugar para praticarmos.

Quebrada Llanganuco. A direita: Huandoy Sur (6160m)



Yanapacha (5460m)
          Na noite em que íamos tentar o cume, eu estava com diarréia e de chico...ai não teve jeito, a preguiça de sair as duas da manha me venceu...Melhor ficar com minhas cólicas dentro do saco de dormir! As meninas foram, mas voltaram logo. Estava realmente difícil encontrar a passagem pelo glaciar...e além disso, elas disseram que o gelo estava fazendo uns barulhos horripilantes!! Devia ser o monstro da greta!!! No dia seguinte, depois do antibiótico, eu já estava me sentindo bem, mas infelizmente a Dani e a Lu estavam cansadas e não quiseram dar mais um peguinha na montanha. Aqui nos separamos.


Dani e Dea imaginando o caminho


Entardecer sobre Chacraraju Oeste (6112m) e Leste (6001m).
          As meninas foram embora, e eu conversei com o Vitor, um aspirante a guia, que estava dando um curso para um casal, se havia a possibilidade de subirmos juntos. No amanhecer do dia seguinte fizemos cume!! Muito lindo, alucinante! As formações no gelo pareciam sagradas, e com a luz do amanhecer!! Incrivel! Voltei destruída e feliz para Huaraz.


Vista do amanhecer cume Yanapacha (5460m)


Vitor e eu no cume do Yanapacha (5460m)

          Três dias de descanso em Huaraz e fui pra Hatum Machay encontrar meu amigo Carioca que recém chegava do Rio, depois de ficar uns dois dias em Lima esperando encontrarem sua mochila com todos seus equipos que havia se perdido no trecho São Paulo - Lima!!
          A partir de agora começou projeto Esfinge!! E para isso meu amigo tinha q aclimatar rápido!!! Otimo!! Equipou todas as vias pra mim!! Mas não dei moleza pra ele...ja começou no 6b! hehehe Nos divertimos muito e fizemos vários amigos.

Carioca em Hatum Machay


Carioca e Ricardo (Venezuela). La Argentinidad al palo (6b+)


Tbem nao me lembro o nome da via. 6b
          Depois de passarmos tres dias em Hatum, fomos o Carioca, Nicolau (amigo do Carioca q conheci em Hatum Machay) e eu para a Quebrada Llaca . O Nicolau tinha seus próprios planos para uma tal de Junguiaraju, ou algo parecido a isso. O Carioca e eu, queríamos escalar rocha (Mission Lunatica 6b) e tentar o Vallunaraju (5686m). No primeiro dia, não encontramos a via q queríamos, e entramos em outra...3 cordadas e começou a nevar!! Pra baixo então, fazer o que? No segundo dia fomos os três dar uma banda pra dentro da quebrada buscar um equipo do Nicolau, desde o caminho conseguimos ver por onde ia a linha da via que queriamos fazer, paciência. Ela passa a esquerda dos "três tetos"que se vê na foto abaixo.
 
Ranrapalca (6162m) e Mission Lunatic, esquerda dos 3 tetos
          O lugar é bastante imponente, já que a nossa frente tínhamos Ranrapalca (6162m) e Oshapalca (5686m).
   

Oshapalca (esquerda) e Ranrapalca (direita)

          Na madrugada do terceiro dia Carioca e eu saímos as 3hrs desde o acampamento base em direção ao cume do valluna!! Massa pra caramba, apesar de ser uma montanha super freqüentada, e das huellas formarem uma verdadeira auto pista, o desafio de ter saido desde o campo base foi bastante motivador! E a chegada no cume, é com certeza muito charmosa...

Auto pista Vallunaraju
 
Carrioca e eu. Cume Vallunaraju (5686m)

Cume Vallunaraju
 
           Esfinge (5327m), "Ruta 85". Quebrada Paron. Essa era a menina dos olhos dessa viagem. Sonho desde o ano passado. Tava muito difícil encontrar parceria, mas uns dois dias antes de viajar descobri q o Carioca tbem estava indo pro Peru, e propus a robada.

Carioca, Quebrada Paron


Carioca a caminho da Esfinge (5326m)
          A principio a (péssima) idéia era fixar os três primeiros largos de corda pra começarmos a jumarear de madrugada. No campo base conhecemos um casal de chilenos que tinham essa mesma péssima idéia. Juntamos as cordas e fixamos 6 largos...a principio parecia lindo.
5h da manha dia do ataque: show de horrores, com exceção do Carioca, ninguém tinha experiência com jumares...demoramos e nos cansamos muito. E pra completar, a cordada do chilenos derrubou uma geladeira duplex da parede!! Era um bloco clássico da via...quem já fez deve lembrar, ficava na 4 parada..era giga!! As 9 hrs, sexta cordada decidimos abandonar a via, não havia mais espírito para continuar...os chilenos continuaram, Carioca e eu descemos.

6 cordada. Decidimos descer
Entardecer Quebrada Paron
          Mas não da nada! Melhoramos nossa logística nos mudando para o bivaque do lado da parede, e na manha seguinte estávamos lá de volta!! Escalamos muito rápido! O Carioca foi de primeiro o tempo todo, e eu de segunda correndo atrás de mochilinha!! Mas foi massa, formamos uma boa dupla. Começamos as 6h30 e 16h15 estávamos no cume. 750m de via. Rapelamos com luz, foi alucinante! Voltamos para o bivaque e dormimos...felizes com as mãos inchadas...


Agora sim!! 6 cordada ruta 85, Esfinge


Abóveda. Ai te que fazer um pendulo para direita


Cume da Esfinge!! Bota fe? Valeu a pena


Carioca no cume cume da Esfinge!! Valeu, moço!!
          Essa foi minha primeira via com mais de 250m, mesmo de segunda foi um passo grande. Não tinha idéia de tempos, nem do tanto que era importante o segundo escalar em velocidade maxima, muitas vezes se puxando na corda pra acelerar o processo.
Agora conheço o caminho e vi que não tem nenhum bicho papão morando na repisa das flores (platô de bivaque, onde depois disso a via se confunde).  Tenho vontade de voltar lá com alguma amiga...cordada feminina na Esfinge!! ia ser o bicho...e agora, conhecendo o caminho...fica bem mais facil. Meu maior medo era a segunda parte da via, onde todos sempre disseram que apesar de fácil era pouco protegido. É verdade que em alguns trechos é preciso ir em simultâneo quase sem proteção, mas é so focar q não cai!!
           Ainda dava tempo de fazer mais uma coisa...Adivinha? Voltei ao Maparaju! Minha mãe sempre me disse que ganho pela insistência...nao sei se isso é bom ou ruim, mas aqui estava eu pela terceira vez na quebrada quilcayhuanca...Desta vez  com a Frida, grande amiga de Curitiba e o Carioca.

Fridoida descansando na Quebrada Cayesh. Eita lugar!!
          Resolvemos baratear as coisas um pouco e fomos sem burros. No primeiro chegamos, na mesma noite saímos para o cume, tempo fechado no meio de nuvens...Gelo durissimo, penitentes e gretas para chegar as 11h30 no cume!! Irado! Q vista do Cayesh!
E a bota da Frida?  Ela não sente frio! E esse crampom automatico na bota de couro?! Mas confesso q estava bem firme! Foi tudo muito divertido!
Mais uma tarefa de casa feita com a ajuda dos amigos, e dia seguinte descemos para Huaraz...agora não vai dar mais tempo pra nada...queria voltar pra Hatum!!

Super botas técnicas Fridoida (juro q estava firme!!)

Cume Maparaju (5326m)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Temporada Frey 2010

Encontros e Desencontros
Acabo de chegar do Frey (Bariloche/Argentina), de mais uma temporada de escalada. Os planos acabaram não saindo como combinado, mas acabou sendo tudo muito bom, inclusive os dias de tempo ruim regados a mucho vino, mate e chapati.

Vale do Campanille nevado no inicio de fevereiro

No final de novembro eu, Luana e Andréia nos encontramos em Floripa para escalar, colocar o papo em dia e combinar a próxima aventura. Decidimos que no início da temporada a Andréia estaria indo com o seu namorado para Arenales, eu para o Frey também de namorado, e a Luana com o Edu para Chalten, e nos encontraríamos para escalar juntas em fevereiro. O local de encontro ficou para ser decidido no caminho, ou a Andréia descia para o Sul, ou a Luana subia. No início da temporada decidi descer para o Sul para encontrar a Luana em Chalten e tentarmos alguma coisa por lá, estava muito motivada em conhecer o lugar que para mim é como um mito sagrado. Porém nossos planos são tão instáveis como o clima da Patagônia. Como praticamente não houve tempo bom em Chalten esta temporada, a Luana acabou subindo para o Frey no início de fevereiro e aí então conseguimos subir algumas agulhas juntas. Infelizmente faltou a Andréia para nos livrar dos cruxxxxxx!!!!!

Escalando no Vale


Leticia no Plato da Torre Principal


A minha primeira experiência na Patagônia, no vale do Frey, foi no verão de 2008. Naquela temporada tivemos quarenta dias de tempo bom, calor, podendo escalar de bermuda e camiseta na agulha Campanille. Só desfrute, a galera muito motivada e evoluindo a cada nova escalada. Os dias de descanso eram coisa rara. Oh saudade!!!
Esse ano os dias de desfrute foram poucos. Porém, quando se tem vontade mesmo, se sobe com vento, neve e luvas nas mãos. A emoção com certeza será recompensadora.
Nos primeiros dias de janeiro escalei com a Letícia Zewe, de Curitiba, que estava conhecendo o lugar e escalando vias completas com proteção móvel pela primeira vez, assim tive a oportunidade e responsabilidade de guiar todas as cordadas, o que foi uma experiência e tanto. Fizemos as clássicas, Diedro de Jim e Sifuentes Weber na Agulha Frey, Del Frente na agulha La Vieja e a Normal da Torre Principal, num lindo dia de céu azul e muito vento, o que fez do rapel uma grande aventura, mas fora a apreensão de rolar uma corda presa, tudo correu muito bem.
No início de fevereiro a Luana apareceu por lá e ja foi recrutada para a nossa cordada. Depois de uma semana de tempo ruim e pessimo, nós três escalamos a On Marche Sur La Lune na agulha La Banana. Depois da escalada seguimos para dormir em um bivaque na base da agulha Campanille, onde escalamos a Buch Going com um vento incrivel e muito frio.

Eu escalando na Buch Going, no Campanille

Tambem rolou nesta temporada uma grande variedade de primeiras cordadas, intentos, vias mais curtas e top ropes na tentativa desesperada de escalar algo e não morrer de tédio nos dias de vento insuportavel, nevasca e chuviscos. Já de volta ao Brasil, onde o clima esta época do ano também não favorece muito a escalada, é certo que valeu a pena provar do gostinho do clima patagônico para desfrutar daquelas escaladas perfeitas naquele granito alaranjado cheio de possibilidades de boas proteções. Sempre vale a penaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! Faça tempo bom ou ruim, na próxima temporada estaremos lá.

Luana na On Marche Sur La Lune na Banana


Por Danielle Pinto